Sociedade em Conta de Participação (SCP) na medicina: Riscos e cuidados jurídicos

11/29/20243 min read

three women sitting beside table
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A Sociedade em Conta de Participação (SCP) é uma modalidade societária regulada pelos artigos 991 a 996 do Código Civil. Ela se caracteriza por sua simplicidade, ausência de registro formal e flexibilidade, tornando-se atrativa para muitos setores, incluindo a área médica. Contudo, seu uso inadequado pode gerar riscos legais e fiscais, especialmente quando desvirtuada de sua finalidade original. Este artigo tem como objetivo esclarecer o que é uma SCP, seus riscos específicos na medicina e como evitar problemas.

1. O que é uma Sociedade em Conta de Participação (SCP)?

A SCP é uma sociedade formada por dois tipos de sócios:

  • Sócio ostensivo: aquele que atua diretamente no mercado em nome da sociedade, assumindo responsabilidades perante terceiros.

  • Sócio participante: aquele que investe capital e participa dos lucros, sem envolvimento direto nas atividades operacionais.

Diferentemente de outras sociedades, a SCP não exige registro em juntas comerciais ou cartórios, podendo ser constituída até mesmo verbalmente. Essa informalidade é uma de suas maiores vantagens, mas também pode gerar riscos quando mal utilizada.

2. Por que a SCP tem sido usada na medicina?
Na medicina, a SCP tem ganhado destaque devido à sua flexibilidade e aos benefícios fiscais, como a isenção de tributos sobre a distribuição de lucros. Ela é frequentemente apresentada como uma solução para médicos que desejam atuar em conjunto sem a necessidade de criar uma sociedade tradicional.

Entretanto, é importante destacar que a finalidade original da SCP é funcionar como uma estrutura de investimento. O sócio participante deve atuar exclusivamente como investidor, sem exercer atividades operacionais. Quando essa regra é desrespeitada, surgem os riscos legais.

3. Os riscos legais e fiscais da SCP na medicina
O uso da SCP na área médica pode gerar as seguintes consequências:

  1. Desvio de finalidade
    Se o sócio participante exerce atividades médicas em vez de apenas investir, ocorre o desvirtuamento da sociedade. Isso pode levar à requalificação da SCP como outra modalidade societária, gerando impactos fiscais e legais.

  2. Responsabilidade solidária
    Embora o sócio participante, em teoria, não responda pelas obrigações da SCP, ele pode ser responsabilizado solidariamente caso a Receita Federal ou outro órgão fiscalizador identifique irregularidades fiscais ou tributárias.

  3. Consequências tributárias
    Se o desvio de finalidade for comprovado, os valores recebidos como lucros podem ser reclassificados como rendimentos tributáveis, com a incidência de impostos retroativos, multas e juros. Isso pode resultar em uma pesada carga tributária.

  4. Risco trabalhista
    A SCP tem sido usada para mascarar vínculos empregatícios, evitando encargos trabalhistas. Essa prática pode ser requalificada pela Justiça do Trabalho, gerando passivos trabalhistas significativos.

  5. Aportes desproporcionais
    A contribuição mínima do sócio participante, quando comparada aos lucros que ele recebe, é um indício que pode levantar suspeitas de irregularidades junto à Receita Federal.

4. Como evitar problemas com a SCP?
Para minimizar os riscos e garantir a conformidade legal:

  • Respeite a finalidade da SCP: Se for sócio participante, atue apenas como investidor, sem envolvimento nas atividades médicas.

  • Monitore as obrigações fiscais: Certifique-se de que o sócio ostensivo está em dia com as obrigações tributárias da SCP.

  • Formalize o contrato adequadamente: O contrato deve ser claro, detalhado e compatível com a legislação.

  • Busque assessoria jurídica: Um advogado especializado pode ajudar a revisar o contrato e esclarecer dúvidas.

A Sociedade em Conta de Participação (SCP) é um modelo societário legítimo e flexível, mas que deve ser utilizado com cautela, especialmente na medicina. Seu uso inadequado pode levar a graves consequências legais e fiscais, colocando em risco a carreira e o patrimônio dos envolvidos. Antes de aderir a esse tipo de sociedade, é essencial buscar assessoria especializada para garantir que todas as exigências legais sejam atendidas.

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